Falaram que escrevo muito pouco aqui, que as informações e descrições são muito sucintas, resumidas. É que palavras são como água para vasos : se amoldam a eles. Tenho receio pelos vasos, não da água.
Na próxima quinta-feira encerraremos a oficina.
Ontem, 28/11/2013, aconteceram muitas coisas aparentemente nada a ver uma com a outra.
Pâmela saiu em liberdade (se for procurada nas fotos postadas em outro encontro, é a moça do sorriso amplo, negra, linda e super articulada).
Falei sobre a pobreza dos últimos trabalhos, tentamos entender o porque e juntos concluímos que a vida é assim mesmo : irregular mas persistente.
A direção autorizou a entrada do reprodutor de IPod para ouvirmos música durante o trabalho : Beethoven, 9ª Sinfonia. Pela pulsação constante de humanidade de que essa composição é feita, razão da minha escolha.
A proposta foi a criação do quarto, local, alojamento, cantinho, onde (re) pousa a alma (ou qualquer outra palavra que diga o que ALMA diz).
Asp e eu demos uma atenção mais cuidadosa do que o normal, o que rendeu confissões, desabafos; e nós, que não estamos interessados nos supostos crimes perpetrados pelas mulheres (em prisão provisória, portanto, sem julgamento, sem sentença, e, logo, sem comprovação indubitável dos delitos), acabamos por ouvir, de forma única (porque onde repousa a alma não há mentiras nem meias-verdades) as coisas de dentro delas.
Uma, chorando, analisando seu trabalho, concluiu que sua vida tem sido um acúmulo desordenado e que ela gostaria tanto de jogar fora o excesso…
Não somos psicólogos e nem fingimos ser, mas muitas ali precisam conversar com um(a) profissional experiente e engajado(a) para ajudá-las (o que, sabemos, nunca vai acontecer).
Uma das meninas furtou uma tesoura (que são contadas pela segurança na nossa entrada e recontadas na saída) e saiu antes das outras. Rebuliço, clima ruim, o Asp e eu sentados, sentindo o movimento. Beethoven.
Após um tempão, localizaram a tesoura, algemaram a moça e nos sentimos mal porque teríamos, de acordo com a segurança, ter verificado se ela pegara alguma coisa antes de ter saído. Sério, eu não tenho que revistar ninguém, tenho?
E assim segue o baile destas vidas tristes, a dança cruel do entra-e-sai sem solução.
Não conseguimos nenhum tipo de colaboração para a realização dessa oficina. Eu mesma não financiaria e acredito que ninguém deva se comprometer com esse tipo de projeto para essa categoria de cidadãs. Porque o Estado não se compromete efetivamente com as suas funções constitucionais. Creio que prender, arrestar pessoas deva ser muito mais barato e rápido do que educar. E como não há estadistas no Brasil, sobram os profissionais dos cargos políticos, temporários.
Milhares aguardam vaga em presídios brasileiros. Só em São Paulo são 8 mil.
É de se refletir sobre a miserabilidade do sistema. Não há esperança, é o Inferno de Dante Alighieri.
“A sociedade ainda não pode abrir mão da prisões, mas elas deveriam servir só para conter os criminosos de alto risco“, defende José de Jesus Filho, assessor da Pastoral Carcerária Nacional.
Um dos maiores especialistas do mundo no tema, o finlandês Matti Joutsen, faz coro ao argumento. Diretor do Instituto Europeu para Prevenção e Controle ao Crime (Heuni), órgão consultivo da ONU, Joutsen diz que em vários países há “uma vontade em particular dos políticos em encontrar soluções fáceis para problemas vexatórios“.
“Seus cidadãos estão preocupados com mais roubos ou assaltos? Aumente a punição. Há mais histórias sobre tráfico de drogas na mídia? Aumente a punição. Houve algum caso particularmente repulsante de estupro ou sequestro? Aumente a punição. Nunca se importam em tentar melhorar as políticas sociais, oferecer aos criminosos em potencial alternativas de vida ou investir em medidas de prevenção“, observa.
Segundo ele, essas alternativas “não trazem as mesmas promessas de recompensa imediata nas urnas“. “Endurecer contra o crime sempre cai bem com a sua base política e é certamente um chamariz de votos“, afirma.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/12/121226_presos_brasil_aumento_rw.shtml
Seguem as colagens deste último encontro:

Tamara

Adriana

Cris

Patrícia

Tatiana

Tatiana (avesso)

Sharlene

Adelaide

Daiana

Lisiane

Sônia
-30.162939
-51.363831